Especialistas mostram que desigualdade de gênero sobrecarrega as mães

A sobrecarga das mães resulta na desigualdade de gênero por meio da divisão de tarefas domésticas, afetando o desenvolvimento de crianças. 

Dados do IBGE indicam que as mães dedicam 23,1 horas semanais ao cuidado da casa e de pessoas, em comparação com as 11,7 horas dos homens. Além disso, um relatório da ONG Think Olga revelou que 86% das mulheres pesquisadas consideram sua carga de responsabilidade como muito grande, e uma em cada seis mulheres sofre de ansiedade devido a essa sobrecarga. 

A sobrecarga das mães resulta na desigualdade de gênero por meio da divisão de tarefas domésticas, afetando o desenvolvimento de crianças. 
Mães (Pxhere/Reprodução)

Saúde mental das mães

Os principais fatores de pressão sobre a saúde mental das mães são a insegurança financeira e múltiplas jornadas. A psicanalista Elisama Santos explicou o ciclo do caos gerado pela sobrecarga materna, no qual as mães se sentem frustradas, irritadas e incapazes de cuidar dos filhos da maneira desejada. 

Essa situação pode levar ao burnout materno, a práticas parentais inconsistentes e ao impacto negativo no desenvolvimento das crianças. Segundo o psicólogo Filipe Colombini, diretor da Equipe AT, a sobrecarga materna pode resultar em crianças inseguras, receosas ou agressivas, prejudicando suas habilidades sociais, regulação emocional e desempenho escolar.

A psicóloga Elisa Altafim, especialista em psicologia do desenvolvimento e práticas parentais, ressaltou a importância das interações de qualidade entre mães e filhos, especialmente na primeira infância (do nascimento aos seis anos). Nesse período, o desenvolvimento cerebral é crucial, com conexões neurais formando-se a um ritmo de um milhão por segundo.

Pesquisa realizada 

Em 2019, 45% das mulheres com filhos menores de 3 anos não trabalhavam, em comparação com apenas 10% dos homens. A situação é pior entre mulheres pretas e pardas, com mais da metade não trabalhando. Durante a pandemia, as mulheres enfrentam maior desemprego.

O Brasil tem mais de 11 milhões de mães solo e 15% dos lares são chefiados por elas, conforme o Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas. Como resultado, 2,3 milhões de crianças brasileiras de 0 a 6 anos vivem em lares sem renda suficiente para suas necessidades básicas.

Impacto no desenvolvimento das crianças 

Dados indicam que 90% das conexões cerebrais ocorrem até os seis anos, afetando a cognição, linguagem, habilidades sociais, personalidade e autoestima. Investir nessa fase é fundamental para o desenvolvimento de indivíduos.

Estudos da ONU demonstram que crianças com acesso a uma educação infantil de qualidade têm 24% mais chances de obter empregos melhores e salários mais altos. Além disso, a educação que promove estímulos socioemocionais reduz em até 65% as chances de envolvimento em crimes violentos, de prisões e de desemprego.

Naércio Menezes Filho, economista e integrante do Núcleo Ciência pela Infância, enfatiza que investir na primeira infância é investir na sociedade, uma vez que o capital humano é essencial para o crescimento econômico sustentável de longo prazo. Ele ressalta a necessidade de investir desde o nascimento e durante a gestação.

Erika Tonelli, cientista social, enfatiza a necessidade de uma rede de apoio abrangente para garantir os direitos das crianças. Isso inclui acesso à educação, saúde, alimentação, moradia, direitos trabalhistas e espaços públicos seguros. No entanto, políticas públicas devem envolver a sociedade para promover essa rede de apoio.

Educação infantil

A educação infantil foi afetada pela pandemia, com uma diminuição no número de matrículas. Cerca de 80% das mães com baixa escolaridade não realizam o número mínimo de consultas pré-natal, aumentando os riscos desnutrição e doenças evitáveis.

A CEO da Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, Mariana Luz, destaca a importância de políticas públicas e o envolvimento da sociedade. O desenvolvimento da primeira infância exige uma rede de apoio mais ampla e eficaz.

Érika Tonelli observa que a sobrecarga parental durante a pandemia levou a um aumento nos acidentes domésticos, afetando crianças. A responsabilidade da sociedade é compreender as causas desses problemas, sem culpabilizar as famílias mais vulneráveis.

A modalidade de home office também não evitou acidentes, uma vez que os pais estavam envolvidos em múltiplas funções. Com isso, a sobrecarga parental torna os pais mais propensos a lesões não intencionais em suas crianças.

Em resumo, a sobrecarga das mães devido à desigualdade de gênero tem implicações significativas no desenvolvimento infantil. Desse modo, investir na primeira infância é fundamental para o crescimento econômico e social, exigindo políticas públicas abrangentes e o envolvimento de toda a sociedade para garantir o bem-estar das mesmas.

Passando por sobrecarga materna? Confira o vídeo a seguir:

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