“Difícil contratar quem tem filhos”, diz recrutador para mulher discriminada; vejas mensagens

Uma moradora da cidade de Cariacica-ES, deu seu relato nas redes sociais após ter sofrido discriminação durante uma seleção para uma vaga de emprego.

Ela diz, que o recrutador atrasou três horas para começar a entrevista e, quando ela disse que não poderia participar no novo horário, a questionou sobre “a rotina de tantos compromissos de um desempregado” e disse ser “sempre difícil contratar quem tem filhos”.

O diálogo ocorreu em uma conversa pelo aplicativo WhatsApp no início do mês. Samara Braga, de 32 anos, está desempregada há 2 meses e resolveu compartilhar a situação na rede corporativa Linkedin, como um alerta para outros profissionais da área. Até quarta-feira, 13 de setembro de 2023, a publicação recebeu mais de 3,9 mil comentários.

“Aconteceu comigo e estou sem acreditar que exista profissional assim. Não é o tipo de publicação que as recrutadoras gostam de ver no perfil [da rede social], mas é necessário compartilhar”, escreveu.

O recrutador entrou em contato no dia anterior da entrevista e marcou uma conversa on-line sem passar detalhes da vaga, segundo a candidata. Depois, além de não comparecer no horário agendado, ele se recusou a remarcar a entrevista.

“Postei [no LinkedIn] para que outros recrutadores não façam isso. Pensem que do outro lado tem uma pessoa que está desempregada, mas que tem uma rotina. Essa pessoa trabalha de alguma outra forma, em casa, cuidando de um filho, fazendo um extra, fazendo um bico. Então a pessoa não está à toa”, afirma.

Mulheres passam discriminação em seleções de empregos por terem filhos. Acompanhe o que diz a legislação sobre esse assunto. | Crédito imagem: Acervo pessoal de Samara Braga
Mulheres passam discriminação em seleções de empregos por terem filhos. Acompanhe o que diz a legislação sobre esse assunto. | Crédito imagem: Acervo pessoal de Samara Braga

Legislação Trabalhista

É importante saber que a legislação trabalhista veda toda prática de discriminação em qualquer fase do contrato de trabalho, inclusive na de recrutamento e contratação, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

“Critérios como estado de gravidez, situação familiar, entre outros, não podem ser utilizados como fatores que ensejem prejuízos ou desvantagens dos candidatos às vagas de emprego.”

Se ocorrer qualquer tipo de abuso, situação vexatória ou discriminatória, é possível pedir indenização na Justiça por danos morais na área trabalhista.

Também é possível fazer a denúncia nos canais de ética ou ouvidoria da empresa.

Pelo menos por enquanto, a candidata Samara disse que não pretende fazer uma denúncia formal sobre o caso. Ela também não informou o nome da empresa ou do recrutador responsável pela mensagem.

‘Filho não impede uma mulher de trabalhar, pelo contrário, ele é uma motivação’

Samara disse que o episódio sobre questionamentos envolvendo a carreira e a maternidade não foi isolado. Algumas outras mulheres também afirmaram que passaram por situações envolvendo questionamentos sobre os filhos em entrevistas de empregos.

O filho da administradora tem 6 anos e, mesmo em busca de uma oportunidade de emprego na área, ela afirma que é possível equilibrar as funções de mãe com a produção de doces, como bolos e pudins.

Fenômeno do turnover e tecnologia

Para uma empresa de consultoria e pesquisadora das relações de trabalho, há uma pressão que as equipes de recrutamento estão lidando com a grande rotatividade de funcionários e avanço da digitalização com inteligência artificial.

“Tem muitas pessoas saindo das empresas, pedindo demissão ou sendo desligadas, e com isso as áreas de seleção estão fazendo muita reposição. Quando temos um índice de turnover alto, as áreas de seleção são muito pressionadas. Então a pessoa que deveria fazer uma seleção cuidadosa e com respeito, pelo volume de trabalho, acaba fazendo um processo que parece uma esteira de produção, para simplesmente completar a vaga”, lamenta.

Sobre as denúncias

Apesar de não ter vínculo com a organização que está tentando uma vaga, o candidato que passar por esse tipo de situação pode buscar os canais internos de denúncia da empresa para reportar o problema.

A Inspeção do Trabalho do MTE tem uma área própria para o enfrentamento dessas práticas, que é a Coordenação Nacional de Combate à Discriminação e Promoção da Igualdade de Oportunidades no Trabalho, bem como coordenações regionais descentralizadas.

Saiba mais: Erros Comuns em Entrevistas de Emprego e Como Evitá-los: Dicas Valiosas para o Sucesso Profissional

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