Depressão de adolescentes dá sinais ainda na infância

Um em cada seis adolescentes na América Latina e Caribe enfrenta transtornos mentais, sendo 17% no Brasil, revela relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). 

As mudanças abruptas na adolescência, período marcado por intensas transformações sociais e biológicas, podem confundir os pais. Identificar se os comportamentos observados são normais para a idade ou indicam problemas de saúde mental torna-se um desafio. Ansiedade e depressão destacam-se como as questões mais frequentes, enquanto o suicídio se posiciona como a terceira causa de morte entre jovens de 15 a 19 anos.

Um em cada seis adolescentes na América Latina e Caribe enfrenta transtornos mentais, sendo 17% no Brasil.
Depressão (Pixabay/Reprodução)

Entendendo a depressão em adolescentes

O aumento global nas taxas de depressão, ansiedade e suicídio entre os adolescentes permanece associado a diversos fatores, incluindo os impactos da pandemia, mudanças nas mídias sociais e pressões acadêmicas. 

O psiquiatra Guilherme Spadini, da The School of Life de São Paulo, destaca a complexidade das mudanças sociológicas nas últimas décadas, abrangendo transformações na estrutura familiar, mercado de trabalho e ansiedade em relação a crises humanitárias e climáticas.

Nessa fase, os adolescentes desenvolvem identidade e buscam autonomia, enfrentando pressões acadêmicas e sociais. O desafio reside na sobreposição dos sintomas da depressão com comportamentos e sentimentos típicos da adolescência, como a busca por privacidade, aumento do tempo no quarto e oscilações de humor.

Desafio dos país 

A adolescência atípica, marcada por agitação, insônia e irritabilidade, pode dificultar a diferenciação entre a depressão e os aspectos normais da fase. Alterações de humor profundas e duradouras indicam possíveis problemas. Isolamento social, declínio no desempenho escolar, alterações no apetite, comportamentos autodepreciativos, abuso de substâncias e queixas físicas frequentes são sinais adicionais.

Ao desconfiar de problemas, os pais enfrentam desafios ao tentar se aproximar para entender se há questões de saúde mental ou se é uma fase temporária. O psiquiatra enfatiza a importância de abordar o adolescente de maneira aberta, empática e segura, mesmo que a comunicação seja difícil.

Para abordar a questão, é recomendável escolher momentos apropriados, sem distrações ou tensões. A abertura para ouvir, evitando críticas, é crucial. Garantir a segurança e acolhimento do adolescente, independentemente do desfecho da conversa, mantém um ambiente propício para o diálogo.

Opinião de especialista 

Spadini ressalta que muitas vezes os adolescentes pedem ajuda, seja diretamente ou por meio de mudanças comportamentais e sociais. Prestar atenção a sinais indiretos, como alterações no tom das conversas e nas relações sociais, é fundamental.

Ao perceber problemas de saúde mental, a busca por ajuda especializada torna-se essencial. O diagnóstico, realizado por um especialista, permite diferenciar alterações normais da adolescência de processos patológicos. O tratamento, que pode envolver psicoterapia e medicamentos, é mais eficaz quando combinado.

Sinais de alerta 

O risco de não tratar a depressão na adolescência é evidente, com o suicídio sendo uma consequência preocupante. A adolescência, caracterizada por impulsos menos controlados e menor maturidade emocional, representa um período de risco. 

Sinais de alerta incluem falar sobre morte ou suicídio, buscar meios para atentar contra a própria vida, isolamento, mudanças significativas no comportamento ou humor, comportamentos autodestrutivos e despedidas.

Dialogar abertamente sobre suicídio com os adolescentes, sem julgamento, é crucial. O mito de que abordar o tema pode gerar ideias suicidas é desmistificado, sendo mais eficaz perguntar de forma clara e empática. A manutenção de uma relação de confiança é essencial, e mentir sobre intenções suicidas não é uma opção.

É importante estar atento 

A demora na busca por tratamento, mesmo em casos leves, pode acarretar prejuízos secundários, como a perda de amizades e relacionamentos, além de dificuldades na escola. O adolescente enfrenta impactos duradouros na autoestima.

Em suma, abordar a depressão na adolescência requer compreensão objetiva, comunicação direta e busca por ajuda especializada. A prevenção, iniciada na infância, destaca-se como uma abordagem abrangente e necessária para enfrentar os desafios crescentes associados à saúde mental dos adolescentes.

Quer entender melhor sobre este tema? Confira o vídeo a seguir:

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